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sexta-feira, 22 de setembro de 2017

Alenquer aposta no turismo à boleia da vinha e do vinho

Giovanni Leone e Sebastiano Pio Monciogli vieram descobrir uma profissão 
que os apaixona
Até domingo, vila quer promover esta indústria. Herdades garantem trabalho às pessoas da região e até há estudantes que vêm de Itália experimentar o trabalho nas vinhas.
Alenquer adotou e apostou no lema de "terra da vinha e do vinho". Uma decisão nada inocente para uma região que tem dois terços da sua área em espaço rural e com muita da zona preenchida pela produção de vinho. Uma atividade económica importante para o país e que na região dá emprego a muitas pessoas.
Mas a vila quer ir mais longe e além de promover o produto local, também quer apostar no turismo ligado à essa indústria. Para reforçar essa promoção, este foi o ano escolhido para se realizar um grande evento de promoção da vinha e do vinho.
Chama-se Alma do Vinho, começou ontem e terminará no domingo. Durante estes dias será possível provar muitos vinhos, mas também experimentar a gastronomia, a música e diferentes entretenimentos para todas as idades. Até se poderá fazer uma viagem de helicóptero para ver melhor toda a região vinícola de Alenquer. A primeira edição ainda está a arrancar, mas já se pensa em repetir nos próximos anos.
Mas o evento surge por na região muito se viver da produção de vinho. "Quer em termos de atividade económica quer em termos de promoção turística [a indústria do vinho] é extremamente importante. Estamos muito satisfeitos com essa atividade económica e tem um potencial muito grande", salientou ao DN o presidente da Câmara de Alenquer, Pedro Folgado. O autarca destacou precisamente a empregabilidade que se verifica na zona rural e a Quinta da Ribeira é um exemplo disso mesmo. Das duas aldeias mais próximas, quase 90% da população tem um trabalho ligado às vinhas, grande parte dele nas vindimas.
"Estas empresas da área agrícola têm uma importância grande a nível social. A indústria é pouca, exceto esta", salientou o enólogo Luís Maia. Paulo Rocha, um dos responsáveis da Sociedade Agrícola Félix Rocha, referiu como nas vindimas chegam a estar ali mais de 20 pessoas (seis são efetivas). Não é dada uma formação específica até porque a experiência passa dentro da família, pois muitos seguem a pisada dos pais e avós.
A tempo inteiro estão "dois braços direitos", como os descreve Luís Maia, que vieram da Ucrânia e que ali encontraram o emprego que lhes deu estabilidade. Há 15 anos chegou Dimitri Kozhokar (51 anos), que depois de ver a empresa onde trabalhava enfrentar problemas foi contratado na Quinta da Ribeira. Mais tarde, em 2010, trouxe o filho Sergei (27). "Não encontrava emprego e vim para aqui. No início foi difícil, pois não sabia a língua", explicou Sergei. Rapidamente ganhou gosto pela sua função, ele que tanto está na adega como nas vinhas. Já o pai Dimitri até brinca a dizer que agora é o filho quem lhe vai ensinando umas coisas, depois de ter sido ele a passar-lhe o seu conhecimento. É o adegueiro e com o filho divide a responsabilidade na preparação dos vinhos e no engarrafamento.

De Itália para aprender

E essa responsabilidade é enorme. Afinal quando começa a fase de produção, qualquer erro pode estragar um ano de trabalho. No entanto, todos dizem trabalhar com gosto, até os dois estagiários que vieram da Sicília, graças ao programa Erasmus, para aprender mais sobre uma área que os apaixona. Giovanni Leone e Sebastiano Pio Monciogli têm 18 anos e vêm dedicando-se ao trabalho que lhes é pedido, inclusivamente ao pisar da uva. Interrompem a função por instantes para dizer ao DN como está a ser uma "experiência belíssima", nas palavras de Sebastiano, mas partilhadas pelo amigo. "Eu adoro a vinicultura e esta é uma experiência para ampliar os meus conhecimentos neste campo e também de trabalho", referiu Giovanni. Sebastiano acrescentou que vir para Portugal - onde vão estar dois meses - foi uma forma de cumprir o sonho de conhecer outros países e não esconde o desejo de talvez vir a trabalhar numa adega como a da Quinta da Ribeira no futuro. Giovanni é mais emotivo: "Isto apaixona-me verdadeiramente." Não tem dúvidas que é nesta área que quer trabalhar.
Estar numa adega não é emprego de horário das 9.00 às 17.00. Nesta fase mais ativa de produção, podem passar-se mais de dez horas a trabalhar. "Passamos muito tempo aqui e, por isso, temos de fazer com gosto", frisou Dimitri. O enólogo Luís Maia é a prova disso. Explica todos os pormenores com entusiasmo, num dia em que tudo estava a acontecer, como o próprio referiu quando se chegou à Quinta da Ribeira.
Enquanto Luís Maia se preocupa em garantir que todo o processo de tratamento da uva decorra normalmente, Paulo Rocha Félix aproveita para mostrar como as suas vinhas irão ser também em 2018 um local para turistas. "Vão ao Alentejo e demoram duas horas para lá e duas para cá. Alenquer está a 30 minutos de Lisboa e podemos dar a conhecer esta região", disse. Uma zona de provas, onde não faltará a gastronomia e até a oportunidade de pisar as uvas. Coisas que se poderá fazer no evento Alma do Vinho, que Paulo Rocha Félix espera que possa ajudar a promover Alenquer. "Os turistas ficam em Lisboa, Cascais e Sintra, mas é uma pena. Muitas vezes vão a Fátima e podiam passar por aqui", afirma.
Pedro Folgado, presidente da câmara, lembra que a autarquia tem trabalhado precisamente nesse sentido: a aposta no turismo. "Os produtores trabalham na produção e agora também no seu espaço. Para isso têm de ter meios", disse.
O autarca explicou que tem sido feita uma abordagem com a Câmara Municipal de Lisboa e com a Associação Turismo de Lisboa, pois ao promover-se Alenquer também se promove Lisboa: "Temos ótimas acessibilidades. Há um casamento perfeito quer na divulgação do nosso território quer depois nas alternativas aos turistas para experimentar outras realidades que não sejam só museus. Está aberto um caminho interessante para todos."

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